Edgard Leuenroth
Edgard Frederico Leuenroth (Mogi Mirim, 31 de outubro de 1881 — São Paulo, 28 de setembro de 1968) foi um tipógrafo, jornalista, arquivista e propagandista, um dos mais notáveis anarquistas do período da Primeira República brasileira.
Fundou diversos jornais e colaborou em diferentes funções junto a tantos outros. Esteve envolvido com os periódicos O Boi, O Alfa, Folha do Braz, O Trabalhador Gráfico, Portugal Moderno, A Terra Livre, A Lucta Proletária, A Folha do Povo, A Lanterna, A Guerra Social, O Combate, A Capital, Eclectica, Spartacus, A Plebe, Romance Jornal, Jornal dos Jornaes, A Noite, Ação Libertária e Ação Direta. Foi também fundador de diversas entidades vinculadas a imprensa, entre estas o Centro Typographico de São Paulo, a União dos Trabalhadores Gráficos, a Associação Paulista de Imprensa e a Federação Nacional da Imprensa.
Em 1917 foi julgado e condenado como um dos articuladores da Greve Geral. Com o surgimento do Partido Comunista Brasileiro passou a ser criticado por Astrojildo Pereira, comunista ex-anarquista que tinha como meta ampliar a influência do partido através do alinhamento com os sindicatos e os meios de imprensa operários, com a proposta bolchevique.
Foi responsável direto pela constituição de um dos maiores arquivos existentes sobre a memória dos movimentos operário e anarquista que hoje está sob os cuidados da Universidade de Campinas, levando o seu nome.
Primeiros anos
Casa da Chácara do Morro onde nasceu Edgard Leuenroth
Edgard Leuenroth nasceu na cidade de Mojimirim, interior de São Paulo, filho do médico-farmacêutico Waldemar Eugênio Leuenroth e de Amélia de Oliveira Brito. Sua mãe era sobrinha do Visconde de Rio Claro. Aos cinco anos de idade, após o falecimento de seu pai mudou-se com sua mãe e irmãos para a cidade de São Paulo.
“Sai de Mogi-Mirim muito criança, guardando uma lembrança nostálgica da carinhosa nobreza com que fui acolhido, com meus irmãos, naquela saudosa chácara lá do morro, que minha avó recebera de seu tio Visconde do Rio Claro. Vim, com minha mãe e irmãos, para o Brás, onde sempre vivi, ligando-se àquele popular e movimentado bairro salientes aspectos de minha vida, alguns deles de magoada recordação de uma meninice sem infância.”
—Jornal Dealbar
Sua família se mudou para o bairro paulistano do Brás, a época um dos mais populosos bairros operários. Passando por dificuldades financeiras, aos dez anos de idade o jovem Edgard abandonaria os estudos e arranjaria um emprego como menino de recados e auxiliar de limpeza. Mais tarde trabalhou também como vendedor ambulante (caixeiro-viajante) de uma loja de tecidos pelo estado de São Paulo.
Ofício de tipógrafo
Leuenroth durante sua infância e adolescência passou um tempo ínfimo na escola aprendendo quase que por conta própria noções de escrita e matemática.
“Não tive estudos regulares. Aprendi comigo. Sou autodidata. Tudo colhi na imensa universidade da vida … No início do curso primário, bem criança, tive de deixar a escola, para trabalhar. Foi para a Escola Modelo, parece-me que a primeira, em São Paulo, dessa natureza, na Rua do Carmo, dirigida por uma inglesa esguia e severa, Miss Brown. Embora tenha sido tão passageira essa minha vida escolar, deixando ela gratas recordações, pela convivência com atenciosos professorandos, que depois figuraram com destaque no campo do ensino. E também por alguns colegas, com a devida licença … que de lá partiram, depois do trânsito por cursos superiores, para altas escaladas na vida pública. Dentre eles, posso citar dois; o dr. Cirilo Júnior, meu conhecido de meninice no bairro do Brás, e dr. Virgílio do Nascimento, com quem fui me encontrar, em períodos agitados de minha vida, em circunstâncias um tanto esquerdas quando ele ocupava o cargo de delegado da Ordem Política e Social.”
—Jornal Dealbar
Aprendeu o ofício de tipógrafo ao conseguir seu primeiro emprego formal nas Oficinas da Companhia industrial. Em 1897 passou a fazer parte dos quadros do jornal O Commercio de São Paulo, na função de tipógrafo, permanecendo nesse emprego por doze anos. No mesmo ano fundaria o jornal quinzenal de crítica literária, O Boi, cujo título se dera mais pelo acaso do que por uma escolha racional, já que, como parte de uma velha máquina tipográfica adquirida viera junto um clichê de impressão onde se lia O Boi. Dois anos depois, em 1899 O Boi passaria a se chamar Folha do Braz. Leuenroth colaborou com este jornal, bem como com o jornal O Alfa de Rio Claro até 1901.
Contato com o Anarquismo
Em 1900 começou a freqüentar as reuniões do Círculo Socialista se interessando pelas reflexões propostas pelo socialismo. No ano seguinte tem contato com o poeta libertário Ricardo Gonçalves que lhe apresentou os princípios da filosofia anarquista, atraindo-o para o movimento libertário do qual jamais se afastaria. Na condição de operário tipógrafo e consciente da importância da associação de classe, fundou o Centro Typográphico de São Paulo, que um ano depois passaria a se chamar União dos Trabalhadores Gráficos e posteriormente Sindicato dos Gráficos. Na ocasião fundou também o jornal O Trabalhador Gráfico que serviria como órgão de imprensa desta organização.
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