O ataque à revista satírica francesa Charlie Hebdo é uma ação do fascismo islâmico que só fortalece o fascismo europeu.
Fascismo é a forma contemporânea da máxima opressão e intolerância — e um fenômeno econômico que tem os interesses do grande capital
O ataque à revista satírica francesa Charlie Hebdo é uma ação do fascismo islâmico que só fortalece o fascismo europeu.
Com dezenas de milhares indo às ruas da Alemanha contra a “islamização da Europa” e a extrema-direita francesa de Marine Le Pen crescendo eleitoralmente, os assassinos de Paris não só atingiram vidas humanas e a liberdade de expressão como contribuem para a polarização entre dois tipos de fundamentalismo: o islâmico e o neofascista.
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O fascismo é a forma contemporânea da máxima opressão, exploração e intolerância. É um fenômeno econômico que tem os interesses do grande capital em disciplinar a ferro e fogo a classe trabalhadora. É um fenômeno político que institui o totalitarismo, ou seja, a repressão estatal tecnologicamente aperfeiçoada para eliminar qualquer dissidência ou oposição. É um fenômeno cultural, no sentido de criar ódios em bodes expiatórios religiosos, étnicos ou sexuais.
O fascismo é a expressão do aguçamento da crise sistêmica.
Ele já tomou formas ideológicas e religiosas diversas. Há um fascismo católico, como foi o espanhol e como é o do terrorista norueguês Breivik. Há um fascismo pagão e de inspiração até mesmo de uma leitura enviesada do hinduísmo, como foi o de Hitler. Há um fascismo evangélico. Há um fascismo judeu. E há um fascismo islâmico, que se alimenta da insatisfação dos imigrantes discriminados na Europa, mas que tem como financiadores fortunas bilionárias do petróleo saudita ou de outros lugares.
Há um crescimento neo-fascista global que se apoia nos fundamentalismos religiosos de diversos cultos.
Os maiores atentados terroristas na Europa foram feitos por um fascista católico como Breivik na Noruega, por fascistas islâmicos na Espanha, e agora na França, e por fascistas cristãos ortodoxos na derrubada do avião holandês sobre a Ucrânia.
A xenofobia, a homofobia, a misoginia, o ódio em relação às liberdades, o militarismo, o culto à violência, a defesa do estado policial, a intolerância a outras religiões, o ódio ao ateísmo e aos ateus, o messianismo exterminador, e, acima de tudo, a defesa da riqueza e do privilégio como bençãos divinas a povos ou raças escolhidas, são os traços comuns dessa degradação política que ameaça o mundo com uma nova adoração de massas de um projeto de estado totalitário sob justificativa religiosa.
O ano de 2015 começa mal.
Que a possível vitória do Syriza na Grécia, apesar de todas as concessões que prometem, seja uma esperança.
(*) Henrique Carneiro é professor de história da FFLCH-USP
Via: OperaMundi