Feminismo e anarquismo nos anos 1920: um diálogo entre Rachel de Queiroz e Maria Lacerda de Moura

Em janeiro de 1927, Rachel de Queiroz acabara de completar dezesseis anos. Desfilava seus cabelos pouco abaixo dos ombros, formado por longos caixos castanho-escuros sobre um rosto redondo e sério de menina moça, recém-saída da Escola Normal.Formara-se aos quinze anos no Colégio Imaculada Conceição, onde já escrevera alguns artigos para o periódico da escola. Ao longo do ano, passado entre a capital, Fortaleza, eas terras da família, no município de Quixadá, trocava bilhetes com sua melhor amiga, Alba Frota, comentando os livros que estava lendo, de Dante Alighieri, Joaquim Manoel de Macedo, Machado de Assis, Eça de Queiroz. Preferências literárias que dividia coma mãe, grande incentivadora e crítica. Ela mesmo encomendava revistas francesas e lia, sempre que possível, os periódicos do centro-sul do país, especialmente Rio e São Paulo, mantendo a família atualizada com as novidades literárias que vinham destas capitais desdeo começo da década. Fortaleza era, então, a sétima capital do país em número de habitantes, ainda que contando com pouco mais de cem mil, enquanto os dois primeiros lugares eram ocupados por Rio e São Paulo, explodindo já suas fronteiras em mais de um milhão depessoas. Se não tinha população comparável à capital do país, Fortaleza tinha, noentanto, problemas parecidos em relação ao saneamento básico, transportes, pobreza e a falta de moradias populares. Entrava no rol dos estados brasileiros que tentavam reformar suas capitais e criar um ambiente salubre
à la francèse.