Anarquismos e Governamentalidade: Poder e governo em Proudhon e Foucault

Nos anos 1990 é colocado em evidência pelo pós-anarquismo um certo número de analogias entre o pensamento anarquista dos séculos XIX e XX e aquilo que se convencionou chamar pensamento pós-estruturalista. Isso permitiu ao anarquismo entrar na universidade não mais como objeto de estudos, mas como instrumento analítico para analisar o exercício do poder. Todavia, segundo o pós-anarquismo, o anarquismo compartilha da mesma análise do poder das teorias marxistas e liberais, análise que toma o poder como essencialmente repressivo agindo sobre uma natureza humana boa. Neste artigo proponho uma abordagem positiva do anarquismo, através de uma analítica em termos de relação de forças no domínio político, um dos aspectos fundamentais dos estudos em governamentalidade. Foucault, ao recuar tanto a concepção jurídica e liberal quanto a concepção marxista, introduziu na sua analítica do poder o que chamou de “hipótese Nietzsche” que consiste em tomar como princípio e motor do poder político de nossas sociedades a guerra, a luta e o afrontamento. Proudhon retomou a guerra a partir de estado de combate perpétuo de forças agindo do indivíduo à economia política. Com esta lógica guerreira, se esquiva das influências do legis centrismo resultante da Revolução Francesa, bem como de seu oposto, a escola histórica de Savigny, dirigindo sua crítica ao governo como práticas de autoridade. Proudhon estabelece sua análise do governo a partir de seu exercício efetivo, de como o poder governamental é exercido.