A Educação em Ciências Naturais no Jornal Operário O Cosmopolita!

O Cosmopolita é um jornal publicado entre 1916 e 1918 pelo Centro Cosmopolita, associação dos trabalhadores de bares, cafés e restaurantes do Rio de Janeiro, na qual há forte atuação da militância anarquista, inspirada no Sindicalismo Revolucionário. O contexto é de crescimento da organização e luta operária frente às péssimas condições de trabalho e de vida em geral, além de baixo acesso à educação formal. Entre os mais de 500 jornais operários publicados na Primeira República (1889-1930), muitos não se restringiam às lutas reivindicativas e buscavam também promover a educação científica e cultural da classe, incluindo textos sobre ciências naturais. A partir de um olhar da História Vista de Baixo, buscamos caracterizar essa prática, sua relevância e intencionalidade, resgatando um capítulo pouco estudado da história da educação em ciências brasileira. Nas 39 edições de O Cosmopolita, foram encontrados 21 textos de ciências naturais, incluindo temas de Astronomia, Biologia, Ciências da Saúde, Física, Geologia e Química. Eles incluem textos escritos por operários, traduções de cientistas estrangeiros e atividades de formação científica no sindicato com cientistas brasileiros. Os contornos da concepção de ciência do jornal se expressam em alguns temas discutidos, como materialismo, higiene, vícios, descendência, moral e sexualidade. A visão desses militantes anarquistas envolve elementos de cientificismo e de um naturalismo fortemente anticlerical, mas também é crítica ao positivismo e à apropriação da ciência pela elite. É a partir dessa perspectiva que eles produzem seus próprios meios de educação em ciências, visando expropriar a ciência para a classe trabalhadora e levá-la à revolução.