A “Hidra Negra”: mobilidade internacional de militantes, canais de comunicação e circulação de práticas no movimento anarquista em São Paulo (1892-1914)
Na passagem do século XIX para o século XX, o anarquismo configurou-se como um movimento transnacional caracterizado por redes complexas, heterogêneas e policêntricas de contatos pessoais e interorganizacionais, responsáveis pela circulação de ideias, informações, recursos, formas de ação, artefatos culturais e, eventualmente, pela colaboração em eventos políticos e campanhas temporárias ou permanentes.
Nesse artigo, destaco dois mecanismos de sua difusão global. O primeiro é a mobilidade internacional de seus militantes, em parte devido à diáspora provocada por medidas repressivas adotadas simultaneamente por diversos estados europeus e em parte devido a deslocamentos voluntários.
De uma forma ou de outra, a mobilidade dos militantes encontrou um elemento facilitador na grande onda emigratória que varreu a Europa entre os anos 1870 e 1920, e que teve o continente americano como principal destino.
O segundo mecanismo que analiso são os canais de comunicação estabelecidos pelos periódicos, responsáveis pelo adensamento da colaboração transnacional e pelo incentivo para a implantação dos primeiros núcleos e centros libertários em cidades como Buenos Aires, São Paulo e Paterson.