A Trajetória das Escolas Libertárias no Brasil: Memória e História!
Introdução:
v O termo “libertário” está associado ao anarquismo justamente por estes defenderem principalmente a liberdade dos indivíduos. Oposta ao conceito naturalista de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) e John Locke(1632-1704) de que a liberdade é um estado natural dos seres humanos, os anarquistas defendem que a liberdade é uma conquista gradual e eminentemente social. A partir do momento em que um indivíduo produz conhecimento, bem como se apropria de tudo aquilo que já foi produzido, ele conquista sua liberdade. Mas, como a liberdade é social, um indivíduo só é plenamente livre quando seu companheiro também conquista sua liberdade. Ou seja, ao contrário do que muito se pensa, o anarquismo acredita que só em sociedade é que os seres humanos podem ser livres. Tal afirmação vem ao encontro das ideias de Piotr Kropotkin (1842-1921)que, ao estudar a evolução dos animais na Sibéria, percebeu que o fator de competição nas sociedades dos animais estudados é inexistente. Os animais, para garantirem a sobrevivência de sua espécie, ajudam-se mutuamente. Kropotkin publica seu livro Ajuda Mútua, dando um caráter científico para a ideia de que ajuda ao próximo e a liberdade só é conquistada através da ajuda mútua. Essa formulação já era defendida por Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865) e Mikhail Bakunin (1814-1876). Ao acreditar que liberdade é uma conquista gradual dos seres humanos através dessa apropriação cultural, os anarquistas veem a educação como oprocesso da conquista dessa liberdade. Por isso, a educação sempre foi uma dasmaiores preocupações dos militantes anarquistas. A educação libertária encontrou várias experiências pelo mundo, onde citamos a Escola La Ruche (A Colméia), dirigida por Sebastien Fauré, o Orfanato Prévost, de Paul Robin, a escola Iasnaia Poliana, de Liév Tolstói e, sobretudo, a que maior exerceu influência no mundo no início do século XX, principalmente no Brasil, a Escuela Moderna de Barcelona, de Francisco Ferrer i Guàrdia. Essas escolas eram autogestionadas, antiautoritárias, livre de qualquer influência do governo ou da igreja; produziam, em sua maioria, seus próprios materiais didáticos e também jornais e periódicos (para isso, contavam com uma imprensa própria). Preocupavam-se também com a coeducação dos sexos numa época onde meninos e meninas conviverem na mesma sala de aula era imoral. Pensavam no conceito da educação integral do indivíduo, ou seja, aeducação deveria desenvolver o ser humano em todas as suas potencialidades. A prática e a teoria, na educação libertária, não são dois elementos ensinados separadamente, mas sim em conjunto. O trabalho manual está presente no ensino. As ideias anarquistas chegam ao Brasil no final do século XIX, com destaque aos anos de 1890, com a vinda de inúmeros imigrantes europeus para o nosso paísque estava num lento processo de industrialização. Essa industrialização gerou impactos nas cidades brasileiras, sobretudo com o surgimento de uma classeo perária e uma pequena burguesia industrial. Os sindicatos e associações operárias começaram a se fortalecer e o anarquismo encontrou espaço para se fomentar enquanto movimento social. É importante destacar aqui que o anarquismo, por ser um
movimento, nunca se estabeleceu enquanto organização através de partidos políticos. O anarquismo é uma ação, um conjunto de ideias e que não se fecha em dogmas. Sendo assim, os ideais anarquistas eram divulgados nesses espaços operários através de discussões e, principalmente, através de jornais e periódicos. Citamos como exemplo três periódicos anarquistas que eram impressos na cidadede São Paulo e tem influência da imigração italiana, sendo eles o Gli Schiavi Bianchi (1892), L’Asino Umano (1892) e L’Avvenire (1894)