Anarquistas sobre a violência

Os anarquistas podem estar totalmente de acordo quanto aos seus objetivos básicos, mas demonstraram ter profundas divergências quanto às táticas necessárias para atingir esses objetivos, especialmente no que se refere à violência. Os discípulos de Tolstoi não admitiam a violência, quaisquer que fossem as circunstâncias. Godwin desejava obter mudanças através da palavra e Proudhon e seus companheiros, através da proliferação pacífica de organizações cooperativas. Kropotkin aceitava a violência, embora com certa relutância, por ver nela uma parte inevitável das revoluções, que considerava etapas necessárias ao progresso da humanidade.

Mesmo Bakunin, que lutou em tantas barricadas e exaltava a crueldade sanguinária das revoltas camponesas, tinha seus momentos de dúvida, quando afirmava, num tom de melancólico idealismo: “As revoluções sangrentas são freqüentemente necessárias, graças à estupidez humana, e, no entanto, jamais deixam de ser um erro, um erro monstruoso e um grande desastre, não só para suas vítimas como para a pureza e a perfeição das causas que se propõem defender”.
Na verdade, ao aceitar a violência, os anarquistas o faziam quase sempre em obediência a uma tradição que teve origem nas revoluções francesa, americana e, principalmente, inglesa – uma tradição de ação popular violenta em nome da liberdade que essas revoluções compartilhavam com outros movimentos da época, como os jacobinos, os marxistas, os blanquistas e os seguidores de Mazzini e Garibaldi. Com o passar do tempo – e principalmente depois que a lembrança da Comuna de 1871 começou a dissipar-se, a tradição adquiriu uma aura romântica, passou a fazer parte do mito revolucionário e em muitos países teve muito pouco a ver com a realidade.

Havia, na verdade, determinadas situações, especialmente na Espanha, Itália e Rússia, onde a violência na vida pública era já há muito tempo endêmica e nesses países os anarquistas – tais como todos os outros partidos – aceitavam as insurreições como parte da rotina. Mas entre os nomes famosos da história anarquista, os heróis de ações violentas foram bem menos numerosos do que os paladinos da palavra.