Então o capitalismo é um sucesso, não é mesmo? Não, não é!

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Na sua maior e mais poderosa vitrine, os EUA (enriquecidos às custas de processos que muito pouco têm a ver com a retórica da livre concorrência, como a escravidão, a expoliação de recursos alheios através da guerra e o protecionismo tarifário — mas deixemos isso entre parênteses), acaba de ser publicado um estudo que mostra que o número daqueles que vivem abaixo da linha da pobreza chegou a impressionantes 49,7 MILHÕES de pessoas. Sim, já são 50 milhões os cidadãos dos EUA que vivem ABAIXO da linha da pobreza: http://politicalblindspot.com/us-poor/

(Parênteses para ressalvar que, claro, eu não acredito que a linha da pobreza seja sempre um medidor universalmente confiável: uma coisa é dizer que um determinado pescador, em algum canto da Amazônia aonde os lagos de malária das hidrelétricas de Dilma Rousseff ainda não tenham chegado, está abaixo da linha da pobreza porque vive com menos de US$2 por dia. Esse pescador pode perfeitamente — ainda — viver com dignidade de sua pesca e/ou lavoura, mesmo tendo renda inferior a US$2 por dia. No caso dos EUA, no entanto, sabemos bem o que significa renda inferior a US$2 por dia para a esmagadora maioria dos atingidos: é situação de desesperadora insegurança alimentar).

E a parte mais incrível do estudo não é nem essa. Em outra parte, revela-se que estão abaixo ou perto da linha da pobreza nada menos que 4 de cada 5 habitantes dos EUA (http://politicalblindspot.com/shocking-study-4-out-of-5-in-usa-face-near-poverty-and-unemployment/). Sim, OITENTA por cento dos habitantes dos EUA estão ou estiveram abaixo ou próximos da linha da pobreza, uma linha que, nos EUA, representa uma situação muito mais desesperadora que na maioria dos outros países do mundo.

Parabéns, capitalismo! Parabéns, teóricos do livre mercado! Tá funcionando que é uma beleza a utopia de vocês.

Idelber Avelar é proofessor de literatura na Tulane University, Nova Orleães (EUA).

Fonte: facebook do autor.