Geografias anarquistas: uma breve genealogia

Anarquismo e geografia têm uma longa relação de proximidade. Como todo extenso romance, houve períodos de adensado engajamento e conexão, e tempos quando ambivalências, e mesmo separações, aconteceram. Ainda assim, se aceitamos o anarquismo como o desmantelamento das desiguais relações de poder e a busca por reorganizar o modo como vivemos no mundo em condições mais igualitárias, voluntárias, altruístas e cooperativas, é preciso considerar o anarquismo como uma iniciativa geográfica. Ao mesmo tempo, se a geografia deve ser compreendida como “um meio para dissipar (…) preconceitos e criar outros sentimentos mais dignos de humanidade”, o anarquismo tem muito a contribuir para a consecução desse projeto. Nesse sentido, o final do século XIX viu florescer os escritos geográficos de
influentes filósofos anarquistas como Piotr Kropotkin e Élisée Reclus, ambos geógrafos muito respeitados nos tempos e espaços em que viveram, tendo contribuído muito para o ambiente intelectual daquele momento histórico. Ainda que o engajamento explícito de seus trabalhos tenha perdido relevância após suas mortes, já no início do século XX o impacto desses dois pensadores visionários continuou a reverberar na teoria geográfica contemporânea, influenciando desde como geógrafos pensam etnicidade e “raça”, passando pelo questionamento da organização social e da acumulação de capital, pelas conceitualizações do planejamento urbano e regional, até as discussões em torno do ambientalismo.

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