Impostos fazem com que os brasileiros paguem pelo carro mais caro do mundo
Bastou um articulista norte-americano da revista Forbes ironizar o status que o brasileiro dá ao automóvel para que a discussão em torno do custo que pagamos pelo carro voltar à tona nas redes sociais e debates de economia pelos quatro cantos do país. Afinal de contas, por que um mesmo carro que lá fora custa X, aqui no Brasil é vendido a 3X? A resposta comum e que há muito tempo não sai do discurso das montadoras é a carga tributária elevada, que dificulta a competitividade dos modelos produzidos no país em relação aos importados.
O que também tem deixado muita gente intrigada é o fato de que carros fabricados no Brasil são vendidos em países vizinhos com preços bem abaixo do que os praticados aqui. Um exemplo é o recém-lançado EcoSport. Produzido na Bahia, o jipinho é vendido no país de origem por R$ 53 mil na versão de entrada. Pois saiba que os chilenos pagam pelo mesmo carro o equivalente a R$ 28 mil (preço de carro popular no Brasil).
Mas será que a culpa por toda essa diferença de preços é a carga tributária? Todos sabem que os impostos sobre automóveis no Brasil são bem mais altos do que na Europa ou nos Estados Unidos. Segundo a Anfavea (associação que representa os fabricantes nacionais), os tributos equivalem a 30,4% do preço médio de um carro no Brasil. Já em países como Alemanha, França e Itália, a proporção varia entre 15% e 17%. Ela é ainda menor nos Estados Unidos (6,1%) ou no Japão (9,1%).
Mesmo essa diferença de tributação não justifica o abismo entre os preços dos carros vendidos no Brasil e em outros países. O professor de economia da Faculdade Boa Viagem, Roberto Ferreira, explica que vários fatores influenciam no preço final de um carro, como taxas, margens de lucro e a cultura do brasileiro de ligar o automóvel ao status. “Parte dos brasileiros dá mais valor à aparência do que ao conteúdo. Há também a questão dos novos ricos, que querem mostrar ascensão através do automóvel”, resume.
Se pegarmos como exemplo o carro mais vendido do mundo, o Toyota Corolla, que por aqui custa em torno de R$ 70 mil e é considerado carro de classe média alta ou novo rico, nos Estados Unidos o mesmo modelo pode ser comprado por pouco mais de US$ 16 mil, o que equivale a cerca de R$ 32 mil (no câmbio atual).
Uma justificativa para a diferença entre os valores praticados lá fora e aqui é o contestado “Lucro Brasil”. Um estudo feito no ano passado pelo banco de investimentos Morgan Stanley, da Inglaterra, apontou que algumas montadoras instaladas no Brasil são responsáveis pela fatia mais gorda do lucro mundial de suas matrizes.
Ironia e verdade
Outro fator importante – e onde entra a “tiração de onda” do articulista da Forbes – é que nós pagamos (sem reclamar) o preço que as montadoras determinam pelos carros. O status que o brasileiro dá para o automóvel é algo único no mundo. O que deveria ser um meio de transporte para atender às necessidades para cada tipo de pessoa ou família se transformou em um símbolo de ascensão social.
Os exemplos dados pelo autor do artigo da Forbes, Kenneth Rapoza, são perfeitos para ilustrar a vaidade dos brasileiros quanto aos automóveis. “Alguém pode imaginar que pagar US$ 80 mil por um Jeep Grand Cherokee significa que ele é equipado com rodas folheadas a ouro e asas.
Mas, no Brasil, esse é o preço de um básico”, ironiza o jornalista. Segundo ele, o modelo citado é só mais um carro comum nos Estados Unidos, enquanto no Brasil se confunde qualidade com preço alto, o que justifica se pagar R$ 189 mil no Grand Cherokee.
E o veneno do jornalista da Forbes vai mais longe ao afirmar que “os brasileiros estão sendo roubados”. “Desculpem, ‘Brazukas’, mas não há nenhum status em um Toyota Corolla, Honda Civic, Jeep Grand Cherokee ou Dodge Durango. Não sejam enganados pelo preço da etiqueta. Vocês definitivamente estão sendo roubados”.
Impostos, alta margem de lucro ou status. Não se pode apontar apenas um como motivo ou vilão para o Brasil ter o carro mais caro do mundo. “Se temos automóveis com preços altos é porque tem quem pague”, conclui o professor de economia, Roberto Ferreira.
Fonte: EstadodeMinas