Mudou o Delfim ou mudou o Lula
Houve um tempo em que Lula, o metalúrgico, era dr. Jeckyll para nós e mr. Hide para a direita. Chegou até a passar 31 dias preso no Deops, quando Paulo Maluf governava São Paulo.
No Brasil redemocratizado, o dirigente patronal Mário Amato garantiu que haveria uma fuga em massa de empresários para o exterior caso Lula chegasse ao poder. Derrotá-lo constituiu prioridade máxima para os grandes capitalistas nas três últimas eleições presidenciais do século passado.
Tudo mudou a partir de 2002, quando Lula, por intermédio do Zé Dirceu, pactuou com Mefistófeles… ou melhor, com Roberto Marinho e outros donos do Brasil.
Permitiram-lhe ganhar a eleição e ele permitiu que os banqueiros e demais expoentes da exploração do homem pelo homem dormissem tranquilos, com a certeza de que seus privilégios permaneceriam imexíveis.
Sucederam-se as fotos repulsivas de Lula aos beijos e abraços com figuras que ele e o PT antes acusavam de inimigos do povo: Toninho Malvadeza, Renan Calheiros, Jader Barbalho, Fernando Collor, José Sarney, Paulo Maluf.
As mais chocantes foram as aproximações com Collor, que trombeteara sua infidelidade, a paternidade de uma filha ilegítima e a intenção que teve de abortá-la para milhões de eleitores brasileiros; e com Maluf, o antigo carcereiro, aquele cujo principal mote de campanha era “vou botar a Rota na rua!”.
E muitos no mercado financeiro sabiam que uma execrável eminência parda ditava a política econômica do Governo Lula, enquanto os Paloccis da vida posavam de ministros de Fazenda: o serviçal predileto dos generais ditadores e signatário do AI-5, Delfim Netto. Isto foi antes do Lula sair do armário, quando ele ainda tinha certo pudor em assumir publicamente suas relações promíscuas.
Ahora, no más! O estranho casal hoje se exibe com total desenvoltura, a ponto de o Delfim alinhar-se com os principais empenhados em blindar a imagem de Lula durante o julgamento do mensalão e o tiroteio eleitoral.
Na sua coluna desta quarta-feira 26, ele não hesita em insinuar que a mídia, assumindo “o partido que melhor reflete sua visão de mundo”, está afrouxando “os compromissos com a moralidade pública”, ao publicar com destaque os “excessos verbais” e a “agressão selvagem” que tucanos & cia. fazem a Lula.
Delfim – pasmem! – qualifica de abusiva a conduta de alguns meios de comunicação, por estarem procurando maliciosamente, “no calor da disputa eleitoral, tentar destruir, com aleivosias genéricas, a imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ignorando o grande avanço social e econômico por ele produzido com a inserção social, o fortalecimento das instituições, a redução das desigualdades e a superação dos constrangimentos externos que sempre prejudicaram o nosso desenvolvimento”.
Ele não se expressava de forma tão rebuscada ao bajular o carniceiro Médici. Sua retórica melhorou com o tempo.
O caráter, não. Coturnos ou sapatos, ele lambe o que for necessário para manter sua influência no círculo do poder.
Quanto ao Lula, eu não chegaria ao extremo de afirmar que ele virou um monstro para nós. Mas, não resta dúvida de que os piores direitistas agora o veem como médico.
CELSO LUNGARETTI