O impacto da Revolução Russa no movimento anarquista uruguaio (1917-1921)
Introdução (George Araújo)
Esta pesquisa tem por objetivo refletir sobre o impacto da Revolução Russa no
movimento anarquista uruguaio. Mais especificamente, delimita-se entre 1917 (ano da
Revolução) e 1921, quando a disputa política e ideológica levou à divisão do
anarquismo uruguaio e ao desmantelamento da central sindical por ele dirigida, a
Federación Obrera Regional Uruguaya (F.O.R.U.).
Interessa-nos tentar compreender de quais maneiras a Revolução Russa de 1917
repercutiu no movimento anarquista do Uruguai. Como ela foi percebida, lida,
interpretada, dimensionada, elogiada, abraçada, criticada, rechaçada e adaptada para ser
utilizada como estandarte para a difusão das ideias libertárias? Para tanto, utilizaremos
como fontes primárias, os números referentes ao período compreendido entre 1917 e
1921 de dois periódicos da imprensa libertária uruguaia de começos do século XX: La
Batalla e El Hombre, que circularam em Montevidéu de 1915 a 1927 e de 1916 a 1924,
respectivamente.
A reflexão sobre a repercussão de Outubro de 1917 no anarquismo uruguaio
conduz a questionamentos historiográficos. Como a historiografia uruguaia sobre o
movimento operário-social uruguaio tratou desse impacto? Como ele foi analisado,
interpretado? Como foi conferida inteligibilidade ao evento, inserindo-o na história do
movimento dos trabalhadores daquele país? Por que determinados aspectos foram
ressaltados e outros diminuídos, negados, restados importância? Assim, além das fontes
primárias citadas, utilizaremos parte da abundante bibliografia produzida pela
historiografia sobre o movimento operário-social uruguaio da época para estabelecer um
diálogo crítico com os autores e suas interpretações.
Na trajetória do movimento operário1 internacional, a Revolução Russa de 1917
é um dos momentos de maior relevância, sendo frequentemente apontada como um
1 Empregamos o termo “movimento operário” em sentido amplo, isto é, significando o “conjunto dos
fatos políticos e organizacionais relacionados com a vida política, ideológica e social da classe operária
ou, mais em geral, do mundo do trabalho. Tem como primeira condição a subsistência […] de um
conjunto de homens que baseiam sua existência econômica no trabalho assalariado, estando privados da
posse dos meios de produção, em oposição aos quais se encontram os detentores desses meios […]”
(BRAVO, Gian Mario. Movimento operário. In: BOBBIO, Norberto. Dicionário de política. Brasília:
Editora Universidade de Brasília, 1998, p. 781).