The Anarchist Revelation (“A Revelação Anarquista”)

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Publicações sobre anarquismo tem florescido desde o início dos anos 2000. Entretanto, ainda há um lugar para publicações surpreendentemente únicas. The Anarchist Revelation (“A Revelação Anarquista”), de Paul Cudenec, recentemente publicado pela Imprensa Winter Oak (Carvalho de Inverno) na Inglaterra é um exemplo. O livro pretende nada mais nada menos do que equipar o anarquismo contemporâneo com uma abordagem que é frequentemente negligenciada: a transformação não só das estruturas da sociedade mas também da alma.
Para alcançar seu objetivo, Cudenec embarca em uma jornada ousada através da história das ideias. A lista de referências é longa: Taoísmo, Sufismo, o Bhagavad Gita, Nietzsche, Hesse, Huxley, C.G. Jung, Marcuse, Baudrillard, Zerzan, para nomear apenas alguns. Isso por si só será razão para algumas pessoas serem céticas em relação a obra: a lista inclui muitos não anarquistas, o perigo de romantizar tradições não ocidentais é evidente, e quando os simpatizantes de Oswald Spengler aparecem, o medo por ideias reacionárias corrompendo um tratado presumivelmente progressista se torna mais próximo. Mas não se engane: não é uma mistura de anotações aleatórias, nem mesmo magia new age disfarçada de colorações anarquistas. O texto de Cudenec é bem-estruturado, consistente em seus argumentos, e procura utilizar poesia, misticismo e espiritualidade sem recair em prolixidade. Não há dúvidas de que o livro é uma tentativa séria de ajudar a oferecer respostas para a questão sempre relevante sobre a mudança de a vida ocorrer a partir de um rearranjo das instituições por si só, se não nos transformarmos enquanto seres-humanos. Este questionamento obviamente não pode ser encarado com uma binaridade, como sim ou não, visto que as instituições sociais determinam o desenvolvimento pessoal – mas o oposto também é verdade. Como diz Cudenec, não é que “a mensagem seja individualista… A razão pela qual indivíduos precisam seguir este caminho é para que eles consigam canalizar melhor e cumprir com as necessidades de um todo maior”. (vii)
Em uma espécie de fusão entre Landauer e Nietzsche (leitores que não se importam com nenhum dos dois podem simplesmente ignorar essa observação), Cudenec coloca uma forte ênfase na figura do “forasteiro”: “Ser um ‘forasteiro’ é um estágio da transformação pessoal que todos devemos experienciar se quisermos emergir da perpétua adolescência auto-obcecada encorajada pela sociedade contemporânea”. (viii) Mais uma vez, o propósito desta etapa é não permanecer isolado, mas se reunir com outros como um indivíduo, melhor equipado para a existência comunitária: “Enquanto forasteiros instintivos, libertamos a nós mesmos das correntes das expectativas da sociedade apenas para encontrar a nós mesmos carregando um enorme fardo de preocupação com o bem-estar da comunidade. Um extremo senso de liberdade pessoal combinado com um extremo senso de responsabilidade coletiva – esta é a poderosa e criativa tensão no coração da psique anarquista”. (85) A “revelação” anarquista a qual o título do livro faz alusão é uma consequência destas convicções: “não é tanto uma revolução que é necessária, mas uma revelação – levantar os véus da falsidade e um alegre redescobrimento do âmago autêntico da nossa existência”. (121)
Falar sobre um “âmago autêntico da nossa existência” ou, como Cudenec faz em outras ocasiões, de um “arquétipo humano” (19) ou a possibilidade de falhar para se tornar “tudo o que a natureza pretende que sejamos” (25) facilmente evoca acusações de essencialismo. No entanto, se olharmos para além das dificuldades terminológicas, uma questão importante a ser levantada é: o que é isso que nós, enquanto anarquistas, de fato queremos e precisamos? No fim, apenas uma resposta a esta questão pode configurar o fundamento das comunidades que procuramos.
O trabalho de Paul Cudenec irá encantar majoritariamente aqueles que – em números crescentes – exploram as relações entre anarquismo e filosofia, psicologia, e religião. Pessoas procurando por análises profundas das instituições governamentais, condições de trabalho, ou relações de gênero e raça talvez tenham que se voltar para outra leitura. Nenhum livro contém a todas as questões. A Revelação Anarquista tem um propósito claro, entretanto, que é refletir sobre a transformação do eu para o benefício da comunidade. Todos interessados neste grande desafio irão encontrar no texto uma leitura inspiradora. (Tradução: Malobeo)